Uma revisão do Grupo de Trabalho sobre Inflamação Crônica e Estrutura Óssea da International Osteoporosis Foundation (IOF) concluiu que o tratamento precoce e agressivo da artrite reumatoide (AR) com fármacos biológicos, especificamente medicamentos antirreumáticos modificadores da doença biológica, podem ser eficazes na interrupção da perda óssea progressiva dos pacientes com AR.
“A perda óssea é um dos efeitos mais prejudiciais induzidos pela inflamação crônica, bem como pelos medicamentos tomados para tratar a artrite reumatoide, como os glicocorticoides. Por isso é importante uma melhor compreensão sobre os medicamentos usados para tratar pacientes com inflamações crônicas que tenham menos probabilidades de impactar negativamente a saúde óssea”, afirma o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo).
A perda óssea progressiva da AR tem várias causas. O desenvolvimento da inflamação crônica tem impactos sobre o sistema imunológico e isso leva a sinais e sintomas que podem aumentar a perda óssea. “Anorexia, desnutrição, perda muscular, caquexia e depressão estão direta ou indiretamente relacionadas à inflamação crônica. A diminuição da capacidade funcional e a falta de exercícios associada à dor e às deformidades articulares contribuem ainda mais para a perda óssea progressiva”, destaca o reumatologista.
O uso de corticosteroides, durante o tratamento da AR, mesmo em pequenas doses de prednisona de 5mg / dia ou o equivalente, por mais de 3 meses, está associado à perda óssea rápida e persistente. Um estudo mostrou que o tratamento contínuo com prednisona a 10 mg / dia, durante 90 dias ou mais, aumentou o risco de fraturas vertebrais em 17 vezes e fraturas de quadril em 7 vezes.
O Grupo de Trabalho concluiu que:
- Os tratamentos precoces e agressivos foram mais eficazes, em rapidamente, alcançar um baixo nível de inflamação e parar a progressiva perda óssea;
- As terapias que visam citoquinas específicas e suas vias de sinalização com DMARDs biológicos podem proteger o esqueleto e devem ser introduzidas o mais rapidamente possível. No entanto, deve notar-se que os resultados nestes estudos clínicos basearam-se principalmente em alterações nos marcadores biológicos e apenas algumas modificações relatadas na DMO ou osteoporose localizada. Apenas três estudos retrospectivos relataram redução no risco de fratura após terapia anti-TNF;
- Os estudos de bloqueio do TNF mostraram que, mesmo em pacientes com AR não responsivos ao tratamento, foi observado um efeito protetor no osso, sugerindo a possibilidade de que a terapia anti-TNF possa restaurar o acoplamento da remodelação óssea independentemente da sua ação anti-inflamatória;
- A falta de eficácia do bloqueio do TNF na perda óssea da mão foi encontrada, apesar da preservação da densidade mineral óssea na coluna lombar e no quadril. Observaram-se melhores resultados quanto à perda óssea localizada com o tratamento anti-IL6;
- Poucos estudos relataram inibição da perda óssea após tratamento com rituximab e abatacept;
- A terapia anti-RANKL mostrou efeitos benéficos na preservação da massa óssea na AR, especialmente na osteoporose justa-articular, embora este tratamento não possa alterar o processo inflamatório;
- Novas terapias não biológicas, mas inibidores potentes da rede de citocinas, podem oferecer opções futuras para a preservação do esqueleto na AR.
“Embora vários estudos relatem ações favoráveis de terapias biológicas sobre a proteção óssea, é claro que ainda há necessidade de mais estudos, pesquisas e aprofundamento sobre o risco de fraturas ósseas em pacientes com AR. Os autores do estudo, recomendam, apropriadamente que todos os médicos que tratem a AR permaneçam atentos ao alto risco de perda óssea e fraturas em seus pacientes. Para muitos desses pacientes de alto risco é importante que o tratamento da osteoporose seja feito, concomitantemente, para reduzir o risco de fratura”, destaca Sergio Lanzotti.